domingo, 31 de março de 2013

Pois bem


Pois bem, diga-me que é impossível
Diga-me que o colorido do céu é só pra quem merece
Diga-me que eu sou só um fio do vestido que ela tece
Diga-me que nada é substituível

Pois bem, prove-me que não há mais lugar no céu
Que todo poeta rimaria isso com fel
Que todo pintor o pintaria de azul-celeste
Que todo homem é suscetível à peste

Pois bem, meu bem
Diga-me que da rosa só sobrou espinho
Que a vida só dá a quem já tem

Pois bem, benzinho
Já que não existe nada entre o céu e o ar
O impossível ainda é mais legal de tentar

Pois mal


O revelador silêncio da noite
É a arma das dúvidas ferozes
Que batalham contra a arte
Das ideias felizes

A noite reveladora pode ser inquietante
As certezas são mais aterradoras do que as dúvidas
As palavras são mais faladas do que ouvidas
As pipas têm mais vento do que barbante

Pois que vente
E que os ventos carreguem meus cantos
Que os cantos se espalhem pelos cantos
E que os cantos não ouçam mais prantos

É por isso que os bebês choram de madrugada
Ainda não é hora de ouvir os segredos do silêncio
São novos demais para ter certeza
De um mundo que te desafia a ter dúvidas

Pois que chore
E derrame sobre o leito as lástimas de quem ainda quer viver
E derrame as certezas que carrega no peito

Pois que berre
Como os gatos do vizinho em noite de lua-cheia
Como a lua-cheia que vaga sem sabedoria
E chora por saber que no fundo,
É extremamente vazia

sexta-feira, 15 de março de 2013

Risco biológico

[...] Os taninos e os terpenoides
Inibem o crescimento de fungos
E repelem os animais herbívoros

Os terpenos
São substâncias responsáveis em grande parte
Pelos odores característicos dos campos e das florestas
Sendo usados na fabricação dos perfumes

Entre os vários usos dos terpenos
Está a possível um deles
O hormônio juvinilizante dos insetos
Como inseticidas
Pois, em quantidades mínimas
Impede a transformação
De ovos em larvas
E de larvas... em pupas

Vê se não parece poesia?



Apostila de Biologia do Positivo, aula 5, matéria 2B, página 12

quinta-feira, 7 de março de 2013

Confissões


Na sombra da noite
Onde nada se enxerga
Minha face cega
Cisma em observar

A escuridão do dia
A ignorância da sabedoria
A volta de quem não ia
A densidade do ar

E o rosto que me encara
Me chama silenciosamente
Olha pra mim e dá risada
Mas na minha cabeça, mente

É o último suspiro da loucura
É o último suspiro com doçura
É a última beirada do abismo
E toda minha poesia,
Não passa de puro pedantismo

sexta-feira, 1 de março de 2013

O que eu sei sobre o poema de baixo

Primeira estrofe: A repetição do poderoso "mas", enquanto faz uma reflexão sobre o comportamento masculino após ver que a pessoa amada não era aquilo que esperava. Segunda estrofe: O mas é um corrupto, ele rouba a essência de qualquer sentimento. Terceira estrofe: Substituição de problemas, já que a cabeça nunca fica vazia. Quarta estrofe: A repetição da sílaba "pa", onomatopéia para tiros, feita 5 vezes. E apagar o pacto com o padre é ir pro inferno por tal ato. Quinta estrofe: O modo como o "mas" continua a incomodar a pessoa, e a revelação de que nós somos nossos maiores inimigos.