sábado, 3 de janeiro de 2015

A que ponto (com) chegamos

A tecnologia é imparável. Nem mesmo a cidade de Ervália com menos de vinte mil habitantes conseguiu evitá-la, na verdade, essa cidadezinha está a frente de muitas outras. A prefeitura colocou um sinal de internet aberto para que todos que estiverem na praça Arthur Bernardes possam ter acesso a tudo que eles precisam. Sim, tudo, afinal, ficar sem celular hoje é uma das coisas mais desesperadoras que pode acontecer com alguns.

A praça sempre foi movimentada, antes pelos jogadores de truco que ficavam horas sentados nas mesinhas redondas com sombrinha e saíam a noite para dar lugar aos cabeludos armados de violões e bebidas baratas, hoje pelos usuários de internet armados de smartphones que se espalham por toda a praça e não se importam com o sol. Os que se importam, se apertam na pouca sombra disponibilizada pelas árvores podadas recentemente.

É comum ver grupos de amigos reunidos para usar a internet, mas ao entrar no mundo virtual se tornam um grupo de estranhos. Grupos de diferentes idades convivendo com o silêncio de vozes e excesso de sons polifônicos de mensagens que chegam sem parar. É como receber um convite para não conversar. Ou seja, subgrupos de pessoas que não se conhecem formam um grupo de estranhos que estão linkados de alguma maneira.

Nem os pombos têm mais vez na praça; celular não deixa migalhas. As piadas são contadas por pessoas desconhecidas por meio de áudios que se espalham tão rápido quanto as fotos constrangedoras. Os pombos humanos se alimentam da falta de contato humano, e eles estão ficando obesos com isso. Afinal, como uma cidade tão pequena quanto Ervália pode ter se tornado tão grande a ponto de ninguém mais ter ânimo de sair para se encontrar?

Citando Ziad K. Abdelnour, nós vivemos na era dos celulares inteligentes e pessoas estúpidas.

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