domingo, 28 de abril de 2013
Início do fim
Se meu canto não suporta
A dor do não saber o que dói
E a cor não comporta
O tom do ácido que me corrói
Oh! Pelos céus!
Que me venha um lampejo de certeza
Oh! Pelos véus!
Que não me cubram com a toalha da mesa
Que me tragam o vinho
Suave como as manhãs frias
E que me deixem sozinho
A lamentar pelos últimos dias
Não trarei a ti, ó amada
O resmungo dos meus pesares
Não quero ver-te amargurada
Com a doçura dos meus males
Não trarei a ti
Mais nada que te incomode
Nem meus versos de jade
Nem minhas estrofes de rubi
Valorizarei a arte como pedras da fonte
Amarei agora, apenas minha poesia
Onde toda vida é dia
Mas todo dia é noite
quinta-feira, 18 de abril de 2013
Defekafkando
Parte I - O fascínio
Fui presenteado por Deus!
Ontem com seis patas,
hoje duas são o suficiente.
Ontem fugia de chineladas,
hoje calço sapato de gente.
Os gatos, malditos,
agora me olham com respeito.
Os homens, falidos,
não querem mais cavar meu leito.
E é tudo tão bonito!
O homem transita num movimento pendular.
E nada mais tem risco.
Trocam papel por açúcar, não é preciso mais roubar.
E quão belos são os monumentos?
E quão rápidos são os veículos mais lentos?
E a cidade gira, pisca, grita!
Sem dúvidas é o lado mais melódico da fita.
As chuvas não me incomodam mais.
Os pássaros, agora, são sinônimos de paz.
Até mesmo o tão temido leão
Treme ao me ver em sua direção.
De repente sou poderoso, quem diria?
De repente sou tão forte quanto a luz do dia!
Parte II - O desespero
Fui amaldiçoado por Deus!
Minhas patas não me suportam mais!
Meu sofrimento não consegue ficar calado!
O homem é um velho com idade de rapaz!
Por favor! Troquem a fita de lado
Os gatos, malditos,
são mais respeitados do que os homens falidos!
A lei do mais forte aqui é ainda mais agressiva
Do que na selva fechada e sem saída.
E é tudo tão bonito!
Mas o homem não tem tempo para enxergar.
E o tempo aqui é tão corrido
que nem parece que eu pertencia a esse lugar.
E quão poluidores são os monumentos?
E quantas mortes ocorrem por atropelamentos?
Meu sangue vermelho, não mais transparente
Me trouxe a dolorosa constatação de que ainda sou gente.
A chuvas enchem a cidade,
E as buzinas desgastadas voltam
E meus sistemas desgastados revoltam.
Só açúcar não supre mais minhas necessidades
A luz sumiu no túnel! O túnel virou túmulo, tumba, tum tum! Piiiiiiiiiiifou.
Parte III - O alívio
AAH!
Querida, tive o sonho mais desumano do mundo
Me olhei no espelho e me vi humano
Me vi fazendo o que não gosto pra comprar o que eu não gosto
Me vi procurando a roupa mais cara.
Querida, você não tem ideia de como é bom ser barata.
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